Ninguém me vê. Não como se eu fosse invisível. Não como se eu fosse um fantasma. Não como se eu não existisse. É mais como se as pessoas não conseguissem me ver, realmente. Como se olhassem para mim e só conseguissem distinguir a casca, a parte fácil de ser percebida. Uma meio adolescente meio adulta de apenas 1,55 m, o formato dos olhos, a cor dos cabelos, batom vermelho pintando os lábios, roupas, acessórios... o externo.
Fico me perguntando se algum dia alguém verá meu interior. As dores de um coração partido, as letras flutuantes de uma poesia esquecida pela metade, os gritos de desejos e sonhos. Será que existe alguém capaz de ler a complexidade de minha alma? Algum dia eu poderei ser totalmente sincera sobre meus sentimentos?
Ainda não consegui ser eu mesma. Não fui capaz de expelir tudo o que sou, o que sinto e o que quero. Guardo-me. Não sei para o quê ou para quem. Estou esperando que o dia certo chegue. Se chegar.
Infelizmente, vivemos num tempo em que o importante é a aparência. Você só é uma criança legal se tiver brinquedos caros cobrindo cada centímetro do seu quarto, se puder comprar uma bolsa de rodinhas e uma caixa de lápis-de-cor com 24 cores. Você só é uma pré-adolescente "descolada" se usar os acessórios que aquela atriz postou no Instagram, se ler as revistas de moda mais famosas do país, se pintar as unhas com esmaltes coloridos e se for apaixonada por aquele cantor gatinho da boyband mais famosa do momento. Você só é uma adolescente legal se namorar o carinha mais bonito da escola, se fizer luzes no cabelo, se for a TODAS as festas porque TODO mundo vai, se entrar na academia e ficar com as coxas gigantes, se for para os EUA no aniversário de 15 anos e se você se vestir igual a todo mundo.
E quanto ao amor? Aos sonhos? Aos sentimentos? E quanto à individualidade? Nada disso parece importar. E talvez esse seja o motivo pelo qual ninguém me conheça verdadeiramente. Porque eu me recuso a fazer parte dessas regras que insistem em nos transformar em robôs de cabelo esticado, lentes azuis e ideias iguais.
Eu não sou contra uma criança ter mais lápis-de-cor do que ela será capaz de usar me 3 anos seguidos, ou contra a menina que quer se parecer com um cantora ou, ainda, contra a adolescente que quer ser aceita. Porque eu sei a quais pressões elas foram submetidas em cada fase de suas vidas.
Eu sei o quanto é ruim você se sentir sempre vulnerável, incapaz e insignificante. Eu sei o que é tentar ser aceita e querer fazer parte de alguma coisa. Eu sei o que é ficar esperando pelos anos seguintes, sempre acreditando que tudo se resolverá quando você for mais velha. E essa solução nunca vem. O alívio nunca chega. É sempre uma exigência, um desafio atrás do outro. Tem sempre alguém te dizendo que você deve ser, como se comportar, o que falar e até como se mover.
Que droga! Qual é o problema com meu jeito de correr? O que tem se eu pronuncio uma palavra de forma diferente? E daí se eu engordei? O que me importa se eu não consigo alcançar a parte superior do armário?
Essas coisas não me fazem pior que ninguém. Muito menos melhor. Me fazem apenas diferente.
O fundamental é aprender a dar mais valor aos momentos que às coisas, amar mais e julgar menos, acreditar mais e reclamar menos, "ser" muito mais que "ter", ver o interior muito mais que o exterior. Viver mais. Viver mesmo e não ficar esperando que as oportunidades simplesmente apareçam ou desejar ter a vida daquela milionária.
E quando as coisas estiverem ruins sugiro que todos confidenciemos nossos medos, incertezas e desilusões ao papel. É o que faço quando me sinto sozinha, quando ninguém mais me compreende, quando desejo que alguém me enxergue de verdade. O papel consegue me ver. Ele pode ser nosso amigo, confidente, ouvinte e, magicamente, também pode ser nosso conselheiro.
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